10.2.11

EXPRESSÕES POPULARES: TESTE SEUS CONHECIMENTOS

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FORMA CORRETA:

1) Esse menino não pára quieto, parece que tem bicho no corpo inteiro.
Ainda não se conhece algum bicho que tenha habilidades de carpinteiro.


2) Quem tem boca vaia Roma.
Curioso é que a forma distorcida também faz algum sentido. Afinal, quem tem boca se comunica e chega lá... Mas na origem é outra coisa. Na expressão correta, o verbo é vaiar. Acredita-se que a expressão se refira a uma exortação à crítica política na época de Roma antiga.


3) Quem não tem cão caça como gato.
Você já viu alguém sair para caçar com a ajuda de um gato? Gato caça sozinho. Por isso, caçar como gato significa caçar sozinho.


4) Batatinha quando nasce espalha rama pelo chão.
Batatinha nasce na superfície da terra? É a rama que se espalha pelo chão, não a batatinha.


5) Enfiar o pé no jacá.
Não adianta argumentar que a expressão "pé na jaca" inspirou até nome de novela. Pode ter inspirado, mas de modo errado e até ridículo. Acontece que, em velhos tempos, os tropeiros paravam para fazer compras na venda. Aproveitavam para tomar uma cachaça e, quando bebiam muito, atrapalhavam-se na hora de ir embora. Colocavam um pé no estribo e, ao jogar a outra perna para montar, pisavam no jacá, o cesto em que as mercadorias eram carregadas. Era uma grande trapalhada, que podia acabar em tombo! Portanto, a jaca nada tem a ver com esse pé.


6) É a cara do pai em carrara esculpido.
Que idéia absurda escarrar e cuspir em alguém para realçar uma semelhança! Mas a história é bem diferente.  Carrara fica na Itália, e o mármore produzido pela cidade é exportado para o mundo todo. O mármore de carrara é famoso desde a Roma Antiga, quando foi utilizado na construção do Panteão. Além disso, muitas esculturas do Renascimento foram esculpidas em mármore de carrara, pois a qualidade deste resultava em maior semelhança com a imagem esculpida. Existe ainda uma teoria mais simples, segundo a qual a forma correta seria "encarnado e esculpido". Uma coisa é certa: a versão popular, aquela anti-higiênica, não é correta.


7) Corro de burro quando foge.
Ao fugir, um burro pode ficar impetuoso e indelicado, mas nunca mudará a cor. Logo, não faz sentido dizer "cor de burro quando foge".


ORIGEM E SIGNIFICADO DE OUTRAS EXPRESSÕES POPULARES


Sem eira nem beira: antigamente,as casas das pessoas ricas tinham um telhado triplo: a eira, a beira e a tribeira, como era chamada a parte mais alta do telhado.Isso dava status ao dono do imóvel, símbolo de riqueza e de cultura. As casas mais pobres tinham tribeira, mas não tinham eira nem beira.
Nas coxas: antigamente, a fabricação artesanal de telhas de argila no Brasil empregava como molde as coxas dos próprios escravos que as produziam. Mas como os escravos variavam de tamanho e porte físico, as telhas ficavam desiguais. Daí a expressão "fazer nas coxas", que significa fazer de qualquer jeito.

Casa da mãe Joana: existem pelo menos duas explicações para essa expressão. Uma delas tem relação com a Itália e diz que Joana, rainha de Nápoles e condessa de Provença (1326-1382), liberou os bordéis em Avignon, onde estava refugiada, e mandou escrever nos estatutos: “que tenha uma porta por onde todos entrarão”. O lugar ficou conhecido como Paço de Mãe Joana, em Portugal. Ao vir para o Brasil a expressão virou “Casa da Mãe Joana”. Uma outra explicação revela que os homens mais poderosos do Brasil costumavam se encontrar num prostíbulo do Rio de Janeiro, na época do Brasil Império. Joana era a proprietária, mas não havia como mandar na casa que recebia homens que mandavam e desmandavam no país e em tudo o mais. A expressão ficou conhecida como sinônimo de lugar em que ninguém manda.
Conto do vigário: duas igrejas situadas em Ouro Preto, segundo algumas versões, receberam uma imagem de santa como presente. Para decidir qual delas ficaria com a escultura, os vigários resolveram contar com a ajuda de um burro. Colocaram o animal entre as duas paróquias, para que ele caminhasse em direção a uma delas. Assim foi feito e a escolhida pelo quadrúpede ficou com a santa. Acontece que, mais tarde, descobriram que um dos vigários havia treinado o burro para seguir o caminho de sua igreja. Por isso, conto do vigário passou a ser sinônimo de falcatrua e malandragem.
Voto de Minerva: Orestes, filho de Clitemnestra, foi acusado pelo assassinato da mãe. No julgamento, houve empate entre os jurados. Coube à deusa Minerva o voto decisivo, que foi em favor do réu. Voto de Minerva é, portanto, o voto decisivo.
Ficar a ver navios: Essa remete a lições de história. Dom Sebastião, rei de Portugal, morreu na batalha de Alcácer-Quibir, mas seu corpo não foi encontrado. A partir de então (1578), o povo português esperava sempre o sonhado retorno do monarca. Vale lembrar que em 1580, em função da morte de Dom Sebastião, abriu-se uma crise sucessória no trono vago de Portugal. A conseqüência dessa crise foi a anexação de Portugal à Espanha (1580 a 1640), governada por Felipe II. Evidentemente, os portugueses sonhavam com o retorno do rei, como forma salvadora de resgatar o orgulho e a dignidade da pátria lusa. Em função disso, o povo passou a visitar com freqüência o Alto de Santa Catarina, em Lisboa, esperando, ansiosamente, o retorno do dito rei. Como ele não voltava, o povo ficava apenas a ver navios.


Não entender patavinas: dizem que Tito Lívio, natural de Patavium (hoje Pádova, na Itália), tinha um latim horroroso, originário de sua região. Nem todos entendiam. Daí surgiu o Patavinismo, que originariamente significava não entender Tito Lívio. Não entender patavina significava não entender nada.
Dourar a pílula: antigamente as farmácias embrulhavam as pílulas em papel dourado, para melhorar o aspecto do remédio amargo. A expressão dourar a pílula significa melhorar a aparência de algo.
O canto do cisne: acreditava-se que o cisne emitia um canto especial, muito bonito, quando estava para morrer. A expressão “canto do cisne” representa as últimas realizações de alguém.

Pior cego é o que não quer ver: a explicação mais consistente remonta a fatos históricos. Em 1647, em Nimes, na França, na universidade local, o doutor Vicent de Paul D’Argenrt fez o primeiro transplante de córnea em um aldeão de nome Angel. Foi um sucesso da medicina da época, menos para Angel, que assim que passou a enxergar ficou horrorizado com o mundo que via. Disse que o mundo que ele imagina era muito melhor. Pediu ao cirurgião que arrancasse seus olhos. O caso foi acabar no tribunal de Paris e no Vaticano. Angel ganhou a causa e entrou para a história como o cego que não quis ver. A expressão se refere a alguém que não quer ver o que está bem à sua frente.

Andar à toa: toa é a corda com que uma embarcação remboca a outra. Um navio que está “à toa” é o que não tem leme nem rumo, indo para onde o navio que o reboca determinar. Uma mulher à toa, por exemplo, é aquela que é comandada pelos outros. Jorge Ferreira de Vasconcelos já escrevia, em 1619: Cuidou de levar à toa sua dama.


Onde judas perdeu as botas: depois de trair Jesus e receber 30 dinheiros, Judas caiu em depressão e culpa, vindo a se suicidar, enforcando-se numa árvore. Acontece que ele se matou sem as botas. E os 30 dinheiros não foram encontrados com ele. Logo os soldados partiram em busca das botas de Judas, onde, provavelmente, estaria o dinheiro. A história é omissa daí pra frente. Nunca saberemos se acharam ou não as botas e o dinheiro. Mas a expressão atravessou vinte séculos.


Nhen-nhen-nhén: significa conversa interminável, em tom de lamúria, irritante, monótona. Resmungo, rezinga. Nheë, em tupi, quer dizer falar. Quando os portugueses chegaram ao Brasil, os indígenas não entendiam aquela falação estranha e diziam que os portugueses ficavam a dizer “nhen-nhen-nhen”.


Pensando na morte da bezerra: significa estar distante, pensativo, alheio a tudo. A origem é bíblica. O bezerro era adorado pelos hebreus e sacrificados para Deus num altar. Quando Absalão, por não ter mais bezerros, resolveu sacrificar uma bezerra, seu filho menor, que tinha grande carinho pelo animal, se opôs. Em vão. A bezerra foi oferecida aos céus e o garoto passou o resto da vida sentado do lado do altar “pensando na morte da bezerra”. Consta que meses depois veio a falecer.
Santinha do pau oco: pessoa que se faz de boazinha, mas não é. Nos século XVIII e XIX, os contrabandistas de ouro em pó, moedas e pedras preciosas utilizavam estátuas de santos ocas por dentro. O santo era “recheado” com preciosidades roubadas e enviado para Portugal.
Vá se queixar ao bispo: boas fontes explicam que, no tempo do Brasil colônia, por causa da necessidade de povoar as novas terras, a fertilidade na mulher era um predicado fundamental. Em função disso, elas eram autorizadas pela Igreja a transar antes do casamento (!), única maneira de o noivo verificar se elas eram realmente férteis. Ocorre que muitos noivos faziam o teste e depois caíam fora (quem sabe, para testar outras noivas). As mulheres enganadas iam queixar-se ao bispo, que mandava homens atrás do fujão.
Chato de galocha: os chatos continuam a existir, ao contrário do acessório que deu origem a essa expressão. A galocha é um tipo de calçado de borracha colocado por cima dos sapatos para reforçá-los e protegê-los da chuva e da lama. Por isso, há uma hipótese de que a expressão tenha vindo da habilidade de reforçar o calçado. Ou seja, o chato de galocha seria um chato resistente e insistente, explica Valter Kehdi, professor de Língua Portuguesa e Filologia da Universidade de São Paulo. De acordo com Kehdi, há ainda a expressão chato de botas, calçados também resistentes, o que reafirma a idéia do chato reforçado.


Do arco-da-velha: coisas do arco-da-velha são coisas inacreditáveis, absurdas. Arco-da-velha é como é chamado o arco-íris em Portugal, e existem muitas lendas sobre suas propriedades mágicas. Uma delas é beber a água de um lugar e devolvê-la em outro - tanto que há quem defenda que “arco-da-velha” venha de arco da bere (”de beber”, em italiano).


Eles que são brancos, que se entendam: significa que alguém não quer tomar partido em determinada questão. Conta-se que, no século XVIII, um mulato, capitão de regimento, teve uma discussão com um de seus comandados e queixou-se a seu superior, um oficial português. O capitão reivindicava a punição do soldado que o desrespeitara. Como resposta, ouviu do português a seguinte frase: "Vocês que são pardos, que se entendam". O oficial ficou indignado e recorreu à instância superior, na pessoa de dom Luís de Vasconcelos (1742-1807), 12º vice-rei do Brasil. Ao tomar conhecimento dos fatos, dom Luís mandou prender o oficial português, que estranhou a atitude do vice-rei. Mas, dom Luís se explicou: "Nós somos brancos, cá nos entendemos."

Texto e pesquisa: Ricardo Zani.

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