29.11.11

TRÊS VEZES VINTE

Entrando nos sessenta

A reação de homens e mulheres ao passar dos anos é diferente? Depende. Da velhice, só escapa quem já morreu

RUTH DE AQUINO|

RUTH DE AQUINO  é colunista de ÉPOCA raquino@edglobo.com.br (Foto: ÉPOCA)
Como a mulher e o homem confrontam os 60 anos? O novo filme da diretora Julie Gavras, exibido na mostra internacional de São Paulo e com estreia prevista para 11 de novembro, trata de envelhecimento. De como esconder ou assumir a idade. Aos 60 você se sente maduro, curioso e sábio ou velho, amargo e ultrapassado? O título do filme no Brasil é assombrosamente ruim e apelativo: Late bloomers – O amor não tem fim. “Late bloomer” é uma expressão inglesa que denomina quem amadureceu tardiamente. Em francês, a tradução do título é clara e objetiva:Trois fois vingt ans (Três vezes 20 anos). Uma conta básica de multiplicação mostra que você já viveu bastante. Um dia teve 20 anos. Também comemorou ou receou os 40. E agora, aos 60, passa para o time dos velhos. Ou não?
Isabella Rossellini (Mary) e William Hurt (Adam) fazem o casal protagonista. Devido a um súbito lapso de memória, a mulher, professora universitária, percebe que envelheceu e toma medidas concretas em casa. Aumenta o tamanho dos números no aparelho de telefone, coloca barras na banheira para o casal não escorregar. O homem, arquiteto famoso, se recusa a se imaginar velho, passa a conviver só com jovens e a se vestir como eles. Ela faz hidroginástica, mas se sente fora d’água, organiza reuniões com idosas e mergulha em trabalhos voluntários. Ele vai para o bar, bebe energéticos e vira a noite. Cada um se apega a sua visão de como envelhecer melhor, sem concessões. Ambos acabam tendo casos extraconjugais. Há nos dois um desespero parecido. Mary exagera na consciência da proximidade da morte. E Adam exagera na negação. Depois de décadas de amor sólido, com os três filhos fora de casa e já com netos, o casal se vê prestes a engrossar as estatísticas dos divorciados após os 60 anos, ao descobrir que se tornaram estranhos e por isso ficam melhor sozinhos e livres. O filme é uma comédia romântica para a idade avançada, um gênero quase inexistente.
Julie Gavras não encontrou nenhuma atriz francesa que assumisse com humor os dilemas de uma sexagenária. “Precisava de alguém com a idade certa, mas que não tivesse feito cirurgia plástica”, diz Julie. “Isabella foi perfeita porque entende que, quanto mais velha fica, mais liberdade tem.” Na França, diz a cineasta, “a idade é uma questão delicada para a mulher”. No Brasil, que cultua a juventude feminina como moeda de troca, é mais ainda. Isabella, um dos rostos mais lindos do cinema, disse ter adorado fazer um filme sobre envelhecimento: “São tão poucos e tão dramáticos. E minha experiência tem sido pouco dramática, aliás bem cômica às vezes. Mulheres envelhecendo são vistas como uma tragédia e foi preciso uma cineasta mulher para ver diferente”.
A reação de homens e mulheres ao passar dos anos é diferente? Depende. Da velhice, só escapa quem já morreu 
Homens e mulheres reagem de maneira desigual à passagem dos anos? É arriscado generalizar. Depende de cada um. Compreendo que mulheres de 60 sintam mais necessidade de parecer jovens e desejáveis – mas alguns homens idosos se submetem a riscos para continuar viris. A obsessão da juventude eterna criou um grupo de deformadas que se sujeitam a uma cirurgia plástica por ano e perdem suas expressões. Mas também fez surgir outro tipo de sexagenárias, genuinamente mais belas, mais em forma, mais ativas e saudáveis enfim.
“As mulheres nessa idade querem aproveitar o mundo, viajar, passear, dançar, ver filmes e peças, fazer cursos. Os homens querem ficar em casa, curtir a família, os netos”, afirma a antropóloga Mirian Goldenberg, que acaba de publicar um livro sobre a travessia dos 60. “Elas se cuidam mais, eles bebem mais. Elas vão a médicos, fazem ginástica, eles engordam, gostam do chopinho com amigos ou sozinhos. Elas envelhecem melhor, apesar do mito de que o homem envelhece melhor. Muitas me dizem: ‘Pela primeira vez na vida posso ser eu mesma’.”

Da velhice ninguém escapa, a não ser que a morte o resgate antes. Cada um lida com ela de forma pessoal e intransferível. O escritor Philip Roth, aos 78 anos, diz que “a velhice não é uma batalha; é um massacre”. Mas produz compulsivamente. Woody Allen, de 75 anos, dirige um filme por ano, mas acha que não há romantismo na velhice: “ Você não ganha sabedoria, você se deteriora”. Para Clint Eastwood, de 81 anos, que ficou bem mais inteligente e charmoso com a idade, envelhecer foi uma libertação: “Quando era jovem, era mais estressado. Me sinto muito mais livre hoje. Os 60 e 70 podem ser os melhores anos, desde que você mude ou evolua”. Prefiro acreditar em Eastwood. Por mais que a sociedade estabeleça como idoso quem tem acima de 60, a tendência é empurrar o calendário para a frente. Hoje, para os sessentões, velho é quem tem mais de 80. Os octogenários produtivos acham que velho é quem passou dos 90. No fim, velho mesmo é quem já morreu e não sabe.

Veja trailler (legendas em francês):



Agradecimentos: José R. de Antoni

27.11.11

HUMOR: COMO ELABORAR UMA CARTILHA PC




(Por Ricardo Zani) 


A Polícia Militar distribuiu panfletos com orientação aos passageiros de coletivos e metrô do DF para se prevenirem contra roubos e assaltos. Uma iniciativa louvável, de grande utilidade pública.
Como é natural, a cartilha tem ilustrações. Acontece que, assim que foi publicada, apareceu quem não gostasse de um dos desenhos. É a ilustração que mostra dois personagens armados abordando uma vítima. Até aí, nenhum problema. Mas alguém concluiu que os bonequinhos com armas nas mãos parecem ser negros.
Então, na Câmara Federal um protesto se ouviu: isso é racismo!
Quando uma iniciativa pública, por melhor que seja, torna-se alvo fixo de pedras grandes, muita coisa pode acontecer em rodas de discussão, gabinetes, palácios, praças, assembleias, plenários e noticiários. Mas nada impede que muita coisa aconteça, também, em nossa imaginação. Ou seja, é inevitável que se recorde o que já se viu por aí para imaginar o que pode acontecer a seguir. Curiosamente, parece que tudo fica mais inflamável quando a polêmica invade o território do "politicamente correto". Então, vejamos.
As medidas esperadas seriam a suspensão da distribuição da cartilha e a preparação de nova edição.
Agora, imaginemos o rumo que as coisas podem tomar.
Os editores alteram a ilustração. Colocam dois brancos assaltando a vítima.
Aí acontece algo incomum e inesperado. Alguém se dói pelos brancos.
“Já que o problema é a cor da pele, por que diabos os assaltantes têm de ser brancos?”
A essas alturas, está claro que a polêmica vai esquentar. Hora de convocar uma reunião.
Um secretário começa a falar. Parece disposto a argumentar que não é politicamente correto defender brancos. Mas os editores falam mais alto:
“Se não pode ser negro e não deve ser branco, o que vamos fazer?”
Nova alteração. A dupla de assaltantes é mista. Um branco e um negro. O problema, agora, é definir a cor da vítima.
Um professor defende o critério das cotas raciais, mas um sociólogo aparece para explicar que a maior vítima da sociedade injusta é o negro. Por analogia, seria mais coerente colocá-lo como vítima na ilustração.
A mudança é feita.
“Ôxe, e negro assalta negro, é?” questiona o representante de um movimento baiano.
Convoca-se, então, uma assembleia democrática. Todos falam muito e muitos entendem pouco.
“Isso aqui tá confuso. Conhecem aquela ministra que tem opiniões escancaradas sobre assuntos velados? Vamos chamá-la...” sugere um iluminado.
A ministra chega com opiniões bem claras:
“Antes de mais nada, eu gostaria de dizer que as mulheres são vítimas.”
Examina a cartilha e dispara:
“Ora, vejam só. Essa ilustração mostra três homens e nenhuma mulher! Qual foi o critério?”
O Movimento Nova Mulher aplaude e sai em marcha pela Esplanada.
A ministra conclui a análise e comenta:
“Gente, quem entende desse negócio de cartilha é o MEC.”
Uma equipe do MEC é chamada. Professores da rede pública aproveitam para manifestar descontentamentos no lado de fora do prédio. Docentes federais se solidarizam e, no fim do dia, é declarada paralisação por 180 dias.
Equipe do MEC examina a cartilha e conclui que foi elaborada em contexto exclusivamente heterossexual. Adverte sobre o crime de homofobia e faz duas recomendações: diversificar a sexualidade dos personagens e  aliviar o rigor gramatical do texto. “Aliás, todo o texto poderia ser substituído por tirinhas”, sugere um assessor.
O Movimento GLBT aplaude e festeja com uma parada na Esplanada e outras 24 pelo país. Uma ala dissidente vai para as rodovias e interrompe o tráfego para reivindicar tratamento carinhoso.
Os editores começam a rascunhar nova ilustração, que contém uma mulher e personagens de diferentes orientações sexuais, mas se recusam a imprimir antes que haja conclusões consistentes.
Então, um oficial pede a palavra e diz que a nova ilustração parece um baile gay e lembra que a ideia central da cartilha não é sexualidade, mas segurança. E acrescenta:
“A propósito, o crime está atacando em muitas frentes. Com tantos ataques, seria bom ouvir alguém da defesa”.
O convidado da defesa comparece e defende que qualquer decisão seja previamente alinhada ao contexto político das minorias internacionais. Propõe que sejam convidados para o debate Chávez, Evo, Fidel e Ahmadinejad.
Algumas organizações discordam e interditam o Eixo Monumental. Mas o convite é mantido. Enquanto aguardam os estrangeiros, algumas lideranças parlamentares sugerem maior participação da sociedade nas discussões.
Duzentas e vinte representações são chamadas.
Uma ONG se manifesta, avisando que quer ampliar a pauta e que tem pendências sobre demarcação de áreas dos descendentes dos quilombos.
Os Karas-Duras ficam sabendo e também preparam uma pauta em torno da demarcação de terras indígenas.
Durante assembleia, o Movimento Viva Vivo se posiciona contra armas de fogo nas ilustrações e um secretário propõe novo plebiscito sobre desarmamento.
Os convidados estrangeiros chegam e a reunião é transferida para o Centro de Convenções.
Evo vai logo avisando que não sairá dali sem elevar o preço do gás boliviano. Chávez pede moderação, mas exige que um dos assaltantes da ilustração seja caracterizado como Tio Sam:
“Los Estados Unidos es el mayor peligro!”
Um líder político concorda, mas diz que a prioridade agora é explicar aos quilombolas que a assembleia não discutirá demarcação de áreas. Ao ouvir isso, um líder pataxó começa a “twittar” para várias tribos. 
Enquanto na Amazônia caciques se enfurecem por não terem espaço para a questão das terras, Ahmadinejad comunica que fará testes nucleares no subsolo, no setor de embaixadas.
O coordenador da reunião intervém e pede que não percam o foco das discussões. Mas ele próprio fica desfocado e trêmulo quando é interrompido por um assessor que entra às pressas e sussurra ao seu ouvido.
Depois de ouvir, o coordenador anuncia que a reunião será interrompida:
“Estão nos avisando que 800 índios armados cercaram o prédio e nos fizeram reféns.”
Alvoroço, pânico geral, todo mundo telefona para todo mundo.
Alguns dias se passam, até que antropólogos, padres, freiras, indigenistas, sindicatos e Hillary Clinton são chamados para mediar a situação.
Semanas se passam e, finalmente, reconhecem que as negociações não avançam. Exausto, Fidel implora que alguém com afinidades indígenas tome a frente das negociações.
Evo é o cara. Entra em campo com todo o gás e, sem querer, acerta uma joelhada em alguém abaixo da linha do Equador. Resmunga alguma coisa e vai em frente.
Evo passa dez dias expondo propostas para um acordo com os índios, quando alguém o interrompe para avisar que o outro lado não está entendendo sua falação em Aimará. Então, ele se dá conta de que não domina nenhum dos idiomas e dialetos indígenas do lado brasileiro. A essas alturas, as conversações são suspensas.
Neste momento, nada há de novo. A última notícia é de que todos seguem reféns, enquanto se procuram intérpretes que possam fazer tradução simultânea do Xavante, Ianomâmi, Terena, Ticuna, Guarani e Caritiana para Espanhol e Aimará. E vice-versa.
Não há previsão para a reedição da cartilha.

4.11.11

CARRO NOVO? OLHO VIVO!


Por Ricardo Zani

Quando você compra um vinho ou uma pizza que não corresponde ao  padrão ou à qualidade prometida, é lesado como consumidor. Mas se o valor é pequeno e, na pressa, você não se informou bem antes de comprar, acaba deixando pra lá. Enganos desse tipo são quase inevitáveis.
Mas quando se trata de um carro zero, de uma marca sem fábrica no Brasil, aí você terá nas mãos um problema complicado.
Ocorre que isso está se tornando frequente. A explicação pode ser uma combinação de fatores: a facilidade para comprar, com financiamentos a perder de vista, a invasão de novas marcas e os critérios de decisão do comprador.
O último fator é especialmente curioso. Às vezes, fico observando pessoas em lojas de carros. A maioria está pensando em trocar de carro, mas não sabe exatamente por que trocar. Movidos pelo modismo, pela pressão da publicidade ou outros fatores, muitas vezes meramente psicológicos, não é raro trocarem por um carro pior. Alguns vão à procura de um modelo sobre o qual nada sabem. Então, procuram se informar. Com quem? Com o vendedor... 
Outro aspecto engraçado é o exame do carro. A maioria se prende ao que está visível. Mais nada. Examinam cor, brilho, ângulos, desenho. Como se escolhessem enfeite para árvore de natal. Às vezes, aprofundam o exame: maçanetas, teclas e mimos. Espelhos, luzes de cortesia, design do painel. Pronto. É lindo. Vou levar!
Apesar de tantas publicações especializadas e das facilidades para pesquisar na internet, muita gente chega “cru” à loja e vai pela conversa de vendedor.
Uma vez, resolvi ver de perto como alguns deles trabalham. Escolhi uma vendedora. Toda maquiada, saltos altos, elegante, bonita, poses de aeromoça da primeira classe e condicionada a lidar com o perfil médio dos compradores.
Quando ela me falou da cor do carro, respondi que dispensava essa informação, porque óbvia. Perguntei como era a curva de torque. Pensou um pouco e disse que iria se informar para depois responder. Ela comentou os vincos da traseira e eu indaguei sobre a relação peso/potência. Engasgou. Quando destacou o fascinante sistema de partida sem chaves, eu disse que essa frescurinha não me interessava, mas sim o regime de rotações em potência máxima. Olhou-me de um jeito nada amistoso. E, finalmente, quando tentou me atrair para o desenho futurista dos farois, eu fiz questão de perguntar sobre o acionamento do comando de válvulas. “É por corrente em banho de óleo ou correia dentada?” Ela respirou fundo e pediu ajuda ao gerente. Fui muito chato, sim. Mas se todos questionassem pontos essenciais, a cobrança chegaria aos fabricantes.        
Como as vendas se dão, muitas vezes, com base nos aspectos exteriores, o mercado é bom para novas marcas que têm como ponto forte design, painéis de instrumentos e mimos bonitinhos. Com financiamentos que dispensam pagamento na entrada, é uma festa para marcas sem tradição e modelos com belas “embalagens”.
Um exemplo atual é a sul-coreana Hyundai. Inovadora, arrojada, marketing agressivo, preços atraentes e, é claro, algumas qualidades.
Mas “houveram” problemas, como diria um amigo que odeia gramática.
A começar pela confiabilidade. Não faz muito tempo, o presidente da companhia, na Coréia do Sul, foi condenado a três anos de prisão por fraude contra os fundos da companhia. Sim, ele mesmo: o principal executivo! (Saiba mais). Ainda assim, muitos compradores confiam na marca, nos parceiros comerciais, nos vendedores e nos cinco anos de garantia. Aliás, quem se deu ao trabalho de investigar como funciona, na prática, essa “fantástica” garantia, não gostou do que viu. É simples: basta lembrar que é necessário cumprir todo o plano de manutenção para não perder a garantia. Resta saber quanto irão cobrar, de verdade, pelas revisões. Muitos preferiram perder a garantia a pagar por essas revisões.Tem ainda a questão das peças de reposição. Vá se informar com consumidores e seguradoras (mas não com o pessoal da rede autorizada).  
Agora, a novidade é o recente episódio do tão aguardado lançamento: o Veloster.
Um cupê com jeito de esportivo. Aquele das três portas. Lindo, que design! Uma gracinha! 
Muita gente viu anúncios, leu o folder, gostou do preço e correu para reservar o seu.
Demorou, mas chegou. Alguns proprietários já estão rodando felizes da vida. Talvez não vejam nada de errado ou não se preocupem em saber se o carro é movido por cavalos ou pôneis, como brinca o genial anúncio da Nissan. Mas quem conhece e faz questão de conteúdo achou estranho. Onde estão os anunciados 140 cavalos? Cadê a injeção direta do motor GDI? 
Compradores juram que o carro não tem o motor prometido. Gustavo Dias, moderador do fórum VeslosterBrasil, na internet, diz que depois de ver tantos relatos levou o carro a uma oficina particular para aferir desempenho em aparelhos (dinamômetro). Resultado: 92 cv líquidos (na roda), o que corresponde a mais ou menos 124 cv no motor. Ou seja, ficou no ar a incrível suspeita de que não seria o 1.6 GDI de 140 cv, mas o 1.6 de 125 cavalos, velho conhecido no Chile. Detalhe: dizem que, nos documentos da compra, consta potência de 140 cv.
Tudo isso está em duas matérias na revista Quatro Rodas de novembro/2011. Estão nas páginas 72 e 154.    

28.10.11

HUMOR: DEFINIÇÕES HILÁRIAS




"Viver no Rio é uma merda; mas é bom. 
Viver em New York é bom, mas é uma merda."
(Tom Jobim).


Por ocasião da inauguração da Ponte Rio-Niterói, 
pediram a opinião do Max Nunes. Eis a resposta:
"Por um lado, é muito bom; por outro lado, é Niterói."
(MaxNunes)


"Quando estamos fora, o Brasil dói na alma; 
quando estamos dentro, dói na pele."
(Stanislaw Ponte Preta)


"A Academia Brasileira de Letras se compõe de 
39 membros e um morto rotativo."
(Millôr Fernandes)


"Brasil? Fraude explica."
(Carlito Maia)

"Pior do que o fim do mundo, para mim, é o fim do mês."
(Zeca Baleiro)


"Quem se mata de trabalhar merece mesmo morrer."
(Millôr Fernandes)

"Acho o Brasil infecto. Não tem atmosfera mental; 
não tem literatura; não tem arte; 
tem apenas uns políticos muito vagabundos."
(Carlos Drummond de Andrade)


"Como se algum político, com exceção de meia 
dúzia de três ou quatro, representasse alguém, 
a não ser a si mesmo, a família e aderentes."
(João Ubaldo Ribeiro)


"Democracia: é quando eu mando em você.
Ditadura: é quando você manda em mim."
(Millôr Fernandes)

"No Brasil, quem tem ética parece anormal."
(Mário Covas)


"A arte de ser louco é jamais cometer a loucura de 
ser um sujeito normal."
(Raul Seixas)


"Não é triste mudar de idéias; triste é não ter 
idéias para mudar."
(Barão de Itararé)


"Ninguém morre, as pessoas despertam do sonho da vida."
(Raul Seixas)


"Comecei uma dieta: cortei a bebida e as comidas 
pesadas e em quatorze dias perdi duas semanas."
(Tim Maia)


"A minha vontade é forte, mas a minha disposição 
de obedecer-lhe é fraca."
(Carlos Drummond de Andrade)


"O sol nasce para todos, 
a sombra pra quem é mais esperto."
(Stanislaw Ponte Preta)

"Nada nos humilha mais do que a coragem alheia."
(Nelson Rodrigues)


"Celulites não são apenas celulites, elas querem dizer:
Eu sou gostosa. Só que em Braille "
(Rita Cadilac - ex-chacrete)


"O que te engorda não é o que você come entre 
o Natal e o Ano Novo, mas o que você come entre 
o Ano Novo e o Natal "
(Hebe Camargo)


"Se o horário oficial é o de Brasília, por que a gente 
tem que trabalhar na segunda e na sexta-feira?"
(Marta Suplicy)


"Para seu marido não acordar com a macaca, depile-se "
(Vera Fischer)


"O homem é um ser tão dependente, que até pra ser 
corno precisa da ajuda da mulher. Pra ser viúvo, também."
(Dercy Gonçalves)


"Por maior que seja o buraco em que você se encontra, 
pense que, por enquanto, ainda não há terra em cima."
(Yasser Arafat)


"Cabelo ruim é igual a bandido: 
ou tá preso, ou tá armado ."
(Belo)


"Preguiçoso é o dono da sauna, 
que vive do suor dos outros."
(Príncipe Charles)


"Não me considere o chefe; considere-me 
apenas um colega de trabalho que tem sempre razão..."
(George Bush)


"Malandro é o pato, que já nasce com os dedos 
colados pra não usar aliança."
(Zeca Pagodinho)


"Se um dia, a vida lhe der as costas...
Passe a mão na bunda dela."!
(Nelson Rodrigues)


"Os psiquiatras dizem que uma em cada quatro 
pessoas tem alguma deficiência mental...
Fique de olho em três de seus amigos. 
Se eles parecerem normais, o retardado é você."
(Palloci)


"Todo mundo tem cliente. 
Só traficante e analista de sistemas é que tem usuário."
(Bill Gates)


"Mulher de amigo meu é ígual a muro alto...
Sei que é perigoso, mas eu trepo."
(Antonio Fagundes)


"Casamento: começa em motel e termina em pensão."
(Daniel Filho)


"Seja legal com seus filhos. São eles que vão 
escolher seu asilo."
(Desconhecido)

Agradecimentos: Ângela M. Pereira



16.7.11

SANTOS ENTRE TAÇAS DE VINHO



Luiz Felipe Pondé


Filósofo e psicanalista, Luiz Felipe Pondé é Doutor em Filosofia pela USP/Universidade de Paris e Ph.D em Epistemologia pela Universidade de Tel Aviv. Colunista semanal da Folha de S. Paulo e professor de pós-graduação PUC-SP, Pondé é conhecido por sua linguagem e didática ao tratar dos temas e dos autores mais complexos com a facilidade das conversas cotidianas.


Entrevista publicada na revista Veja, edição 2225, de 13/7/2011
Jerônimo Teixeira,  Revista Veja 

O Filosófo ataca o esnobismo hipócrita dos "jantares inteligentes" e explica por que considera o cristianismo moralmente superior à pregação materialista



Luiz Felipe Pondé
 (foto), 52, é um raro exemplo de filósofo brasileiro que consegue conversar com o mundo para além dos muros da academia. Seja na sua coluna semanal na Folha de S.Paulo, seja em livros como o recém-lançado O Catolicismo Hoje (Benvirá), ele sabe se comunicar como o grande público sem baratear suas ideias. Mais rara ainda é sua disposição para criticar certezas e lugares-comuns bem estabelecidos entre seus pares. Pondé é um crítico da dominância burra que a esquerda assumiu sobre a cultura brasileira. Professor da Faap e da PUC, em São Paulo, Pondé, em seus ensaios, conseguiu definir ironicamente o espírito dos tempos descrevendo um cenário comum na classe média intelectualizada: o jantar inteligente, no qual os comensais, entre uma e outra taça de vinho chileno, se cumprimentam mutuamente por sua “consciência social”. Diz Pondé: “Sou filósofo casado com psicanalista. Somos convidados para muitos jantares assim. Há até jantares inteligentes para falar mal de jantares inteligentes. Estudioso de teologia, Pondé considera o ateísmo filosoficamente raso, mas não é seguidor de nenhuma religião em particular. Eis um pensador capaz de surpreender quem valoriza o rigor na troca de ideias.

Em seus ensaios, o senhor delineou um cenário exemplar do mundo atual: o jantar inteligente. O que vem a ser isso? 
É uma reunião na qual há uma adesão geral a pacotes de ideias e comportamentos. Pode ser visto como a versão contemporânea das festas luteranas nas Dinamarca do Século 19, que o filósofo Soren Kierkegaard criticava por sua hipocrisia. Esse vício migor de um cenário no qual o cristianismo era base da hipocrisia para uma falsa espiritualidade de esquerda. Como a esquerda não tem a tensão do pecado, ela é pior do que o cristianismo. 

Como assim? 
A esquerda é menos completa como ferramenta cultural para produzir uma visão de si mesma. A espiritualidade de esquerda é rasa. Aloca toda a responsabilidade do mal fora de você: o mal está na classe social, no capital, no estado, na elite. Isso infantiliza o ser humano. Ninguém sai de um jantar inteligente para se olhar no espelho e ver um demônio. Não: todos se veem como heróis que estão salvando o mundo por andar de bicicleta. 

Quais são os temas mais comuns da conversa em um jantar desses? 
Filhos são um tema recorrente. Todos falam de como seus filhos são diferentes dos outros porque frequentam uma escola que cobra R$ 2.000 por mês, mas é de esquerda e estuda a sério o inviável modelo econômico cubano. Ou dizem que a filha já tem consciência ambiental e trabalha e uma ong que ajuda as crianças da África. Também se fala sempre de algum filme chatíssimo de que todos fingem ter gostado para mostrar como têm repertório. Mais timidamente, há certa preocupação com a saúde e o corpo. Reciclar lixo, e mais recentemente, andar de bicicleta também são temas valorizados. Sempre se fala mal dos Estados Unidos, mas Barack Obama é um deus. Fala-se mal de Israel, sem conhecer patativa da história do conflito israelo-palestino. Mas, claro, é obrigatório enfatizar que você é antissionista, mas não antissemita, pois em jantar inteligente muito provavelmente haverá um judeu – apesar de serem muitas vezes judeus em crise consigo mesmos, o que é bem típico dos judeus. 

Que assuntos são tabus? 
Imagine dizer em uma reunião na Dinamarca luterana de Kierkegaard que algumas mulheres são infelizes porque não chegam ao orgasmo. Seria um escândalo. Simetricamente, hoje é um escândalo dizer que as mulheres emancipadas e donas de seu nariz estão mesmo é loucas de solidão. No jantar inteligente, você tem sempre de dizer que a emancipação feminina criou problemas para as mulheres, que os homens aprenderam a ser sensíveis e que uma mulher nunca vai dar um pé no homem que se mostre sensível demais. Os jantares inteligentes misturam cardápios interessantes -- pratos peruanos ou, sei lá, vietnamitas – como papo-cabeça, mas servem à mesma função que os jantares dos pais dessas pessoas cumpriam: passar o tempo. Os problemas amorosos, sexuais e profissionais são os mesmos, mas todos se acham bem resolvidos. Costumo provocar dizendo que há 100 anos se fazia sexo melhor. Tinha mais culpa e pecado, o que deve ser uma excitação tremenda. Hoje, todos mundo diz que tem um desempenho maravilhoso, e que vive uma relação de troca plena com o seu parceiro ou parceira. Eu considero a revolução sexual um dos maiores engodos da história recente. Criou uma dimensão de indústria, no sentido da quantidade, das relações sexuais – mas na maioria elas são muito ruins, porque as pessoas são complicadas. 

Quando começaram os jantares inteligentes? 
A matriz histórica são os filósofos da França pré-revolucionária. Os saraus, os jantares em casa de condessas e marquesas eram então uma atividade da burguesia, ou de uma aristocracia falida, aburguesada. Eram uma das formas que a burguesia usava para constituir sua identidade, para mostrar que tinha cultura e opiniões. Mas era um grupo de vanguarda, que discutia a fratura e crises do pensamento. Nos jantares de hoje, a inteligência tem a mesma função do vinho chileno. 

Não há lugar para um pensamento alternativo nem na hora da sobremesa? 
Não. A gente anos de ditadura no Brasil. Mas, quando ela acabou, a esquerda estava em sua plenitude. Tomou conta das universidades, dos institutos culturais, das redações de jornal. Você pode ver nas universidades, por exemplo, cartazes de um ciclo de palestras sobre o pensamento de Trotsky e sua atualidade, mas não se veem cartazes anunciando conferência sobre a crítica à Revolução Francesa de Edmund Burke, filósofo irlandês fundamental para entender as origens do conservadorismo. Não há um pensamento alternativo à tradição de Rousseau, de Hegel e de Marx. Tenho um amigo que é dono de uma grande indústria e cuja filha estuda em um colégio de São Paulo que nem é desses chiques de esquerda. É uma escola bastante tradicional. Um dia, uma professora falava da Revolução Cubana, como se esse fosse um grande tema. Ela citou Che Guevara, e a menina perguntou: “Ele não matou muita gente?” A professora se vira para a menina e responde: “O seu pai também mata muita gente de fome”. O que autorizou uma professora usar esse tipo de argumento é o status quo que se instalou também nas escolas, e não só na universidade. O infantilismo político dá vazão e legitima esse tipo de julgamento moral sumário. 

Como essa tendência se manifesta na universidade? 
O mundo das ciências humanos, em que há pouco dinheiro e se faz pouca coisa, é dominado pela esquerda aguada. Há muitos corporativismo e a tendência geral de excluir, por manobras institucionais, aqueles que não se identificam com a esquerda. Existe ainda a nova esquerda, para a qual não é mais o proletariado que carrega o sentido da história, como queria Marx. Os novos esquerdistas acreditam que esse papel hoje cabe às mulheres oprimidas, aos índios, aos aborígenes, aos imigrantes ilegais. Esses segmentos formariam a nova classe sobre a qual estaria depositada a graça redentora. Eu detesto política como redenção. 

Por que a política não pode ser redentora? 
O cristianismo, que é uma religião hegemônica no Ocidente, fala do pecador, de sua busca e de seu conflito interior. É uma espiritualidade riquíssima, pouco conhecida por causa do estrago feito pelo secularismo extremado. Al lado de sua vocação repressora institucional, o cristianismo reconhece que o homem é fraco, é frágil. As redenções políticas não têm isso. Esse é um aspecto do pensamento de esquerda que eu acho brega. Essa visão do homem se responsabilidade moral. O mal está sempre na classe social, na relação econômica, na opressão do poder. Na visão medieval, é a graça de Deus que redime o mundo. É um conceito complexo e fugidio. Não se sabe se alguém é capaz de ganhar a graça por seus próprios méritos, ou se é Deus na sua perfeição que concede a graça. Em qualquer hipótese, a graça não depende de um movimento positivo de um grupo. Na redenção política, é sempre o coletivo, o grupo, que assume o papel de redentor. O grupo, como a história do século 20 nos mostrou, é sempre opressivo. 

Em que o cristianismo é superior ao pensamento de esquerda? 
Pegue a ideia de santidade. Ninguém, em nenhuma teologia da tradição cristã – nem da judaica ou islâmica --, pode dizer-se santo. Nunca. Isso na verdade vem desde Aristóteles: ninguém pode enunciar a própria virtude. A virtude de um homem é anunciada pelos outros homens. Na tradição católica – o protestantismo não tem santos --, o santo é sempre alguém que, o tempo todo, reconhece o mal em si mesmo. O clero da esquerda, ao contrário, é movido por um sentimento de pureza. Considera sempre o outro como o porco capitalista, o burguês. Ele próprio não. Ele está salvo, porque reclica lixo, porque vota no PT, ou em algum partido que se acha mais puro ainda, como o PSOL, até porque o PT já está meio melado. Não há contradição interior na moral esquerdista. As pessoas se autointitulam santas e ficam indignadas com o mal do outro. 

Quando o cristianismo cruza o pensamento de esquerda, como no caso da Teologia da Libertação, a humildade se perde? 
Sim. Eu vejo isso empiricamente em colegas da Teologia da Libertação. Eles se acham puros. Tecnicamente, a Teologia da Libertação é, por um lado, uma fiel herdeira da tradição cristã. Ela vem da crítica social que está nos profetas de Israel, no Antigo Testamento. Esses profetas falam mal do rei, mas em idealizar o povo. O cristianismo é descendente principalmente desse viés do judaísmo. Também o cristianismo nasceu questionando a estrutura social. Até aqui, isso não me parece um erro teológico. Só que a Teologia da Libertação toma como ferramenta o marxismo, e isso sim é um erro. Um cristão que recorre a Marx, ou a Nietzsche – a quem admiro --, é como uma criança que entra na jaula do leão e faz bilu-bilu na cara dele. É natural que a Teologia da Libertação, no Brasil, tenha evoluído para Leonardo Boff, que já não tem nada de cristão. Boff evoluiu para um certo paganismo Nova Era – e já nem é marxista tampouco. A Teologia da Libertação é ruim de marketing. É como já se disse: enquanto a Teologia da Libertação fez a opção pelo pobre, o pobre fez a opção pelo pentecostalismo. 

O senhor acredita em Deus? 
Sim. Mas já fui ateu por muito tempo. Quando digo que acredito em Deus, é porque acho essa uma das hipóteses mais elegantes em relação, por exemplo, à origem do universo. Não é que eu rejeite o acaso ou a violência implícitos no darwinismo – pelo contrário. Mas considero que o conceito de Deus na tradição ocidental é, em termos filosóficos, muito sofisticado. Lembro-me sempre de algo que o escritor inglês Chesterton dizia: não há problema em não acreditar em Deus; o problema é que quem deixa de acreditar em Deus começa a acreditar em qualquer outra bobagem, seja na história, na ciência ou sem si mesmo, que é a coisa mais brega de todas. Só alguém muito alienado pode acreditar em si mesmo. Minha posição teológica não é óbvia e confunde muito as pessoas. Opero no debate público assumindo os riscos do niilista. Quase nunca lanço a hipótese de Deus no debate moral, filosófico ou político. Do ponto de vista político, a importância que vejo na religião é outra. Para mim, ela é uma fonte de hábitos morais, e historicamente oferece resistência à tendência do Estado moderno de querer fazer a cura das almas, como se dizia na Idade Média – querer se meter na vida moral das pessoas. 

Por que o senhor deixou de ser ateu? 
Comecei a achar o ateísmo aborrecido, do ponto de vista filosófico. A hipótese de Deus bíblico, na qual estamos ligados a um enredo e um drama morais muito maiores do que o átomo, me atraiu. Sou basicamente pessimista, cético, descrente, quase na fronteira da melancolia. Mas tenho sorte sem merecê-la. Percebo uma certa beleza, uma certa misericórdia no mundo, que não consigo deduzir a partir dos seres humanos, tampouco de mim mesmo. Tenho a clara sensação de que às vezes acontecem milagres. Só encontro isso na tradição teológica.