22.8.05

Vinho e saúde

Os fatos

Pesquisas realizadas no mundo inteiro atestam que o vinho faz bem ao coração. A bebida já é recomendada por entidades importantes, como a American Dietetic Association, e entrou no cardápio de hospitais conceituados, como o da Universidade Johns Hopkins, nos Estados Unidos. Trabalhos recentes indicam que os benefícios vão além da redução de riscos cardíacos. "A cada momento se descobre no vinho uma nova propriedade positiva para a saúde", diz André Souto, químico da Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul, que há seis anos investiga os segredos da bebida. Composto de aproximadamente 400 substâncias, o vinho é capaz de aumentar o bom colesterol, evitar a oxidação das células, reduzir a formação de placas de gordura nas veias, dilatar os vasos e melhorar a circulação. Há estudos que indicam ainda a possibilidade de eficácia contra vírus, bactérias, alguns tipos de câncer, doenças degenerativas e males decorrentes do envelhecimento. Sabe-se que o vinho contém cerca de 200 compostos fenólicos, substâncias que agem como antioxidantes e antiinflamatórias. A mais importante delas é o resveratrol
.

Análises feitas nos Estados Unidos, Inglaterra, França e Dinamarca concluíram que quem bebe vinho tinto com regularidade reduz em 35% o risco de desenvolver doenças cardiovasculares. Os primeiros indícios sobre a eficiência da bebida contra doenças do coração datam do início do século XIX. Autópsias realizadas na época mostravam que a população francesa tinha menor incidência de artérias obstruídas com gordura. A constatação intrigava os médicos, que já então começavam a relacionar doenças do coração com manteiga, cremes e queijos gordos e outros ingredientes usados com fartura na culinária da França. Essa questão ganhou o nome de "paradoxo francês" e em sua solução se estabeleceu a conexão entre coração saudável e consumo diário – e comedido – de vinho. Para aproveitar as virtudes da bebida é útil saber como ela age no organismo e quais tipos de vinho oferecem mais benefícios. Os quadros a seguir contribuem para essa compreensão.


A supersubstância

O maior candidato a receber os méritos da boa performance dos tintos no corpo é um antibiótico natural chamado resveratrol, produzido naturalmente pela videira para proteger os cachos de uva contra os fungos e a umidade. Em experiências com a molécula de resveratrol isolada, os efeitos benéficos vão ainda mais longe. "Ele inibe o desenvolvimento de tumores, protege os neurônios, é um forte antioxidante, combate vírus e é um potente antiinflamatório", enumera André Souto, químico da Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul. Segundo um estudo publicado na revista Nature, o resveratrol aumentou a longevidade de leveduras, vermes e moscas em 70%. Os cientistas acreditam que, no futuro, o potencial seja aplicado a humanos.

Como o resveratrol é resultado de um sistema de proteção da planta, quanto mais agressivo o ambiente em que ela é cultivada, maior a quantidade de moléculas presentes na uva.

Encontrado principalmente na casca e nas sementes das uvas, o resveratrol quase não aparece nos brancos e espumantes, feitos apenas com a polpa da fruta. Para escolher a bebida pela quantidade de resveratrol, deve-se dar preferência aos tintos franceses feitos com uva tannat, safra de 1997 – aquela em que se encontrou o máximo da substância. A informação consta de um estudo brasileiro que analisou vinhos das dez principais regiões produtoras do mundo. Eis o ranking das uvas e países que produzem vinhos com mais resveratrol, segundo a pesquisa:


UVA DE BASE DO VINHO CONCENTRAÇÃO MÉDIA DE RESVERATROL

Tannat .......................4,2 miligramas por mililitro
Merlot .......................4,0
Pinotage ....................3,4
Pinot noir ..................2,9
Cabernet sauvignon .1,8
Cabernet franc ..........1,6
Gamay .......................1,5


PAÍSES QUE PRODUZEM VINHOS COM MAIS RESVERATROL

França...... em média 5,06 miligramas por mililitro
Brasil ...........................2,57
Itália ............................1,76
Estados Unidos............1,47
Austrália .....................1,47
Portugal ......................1,40

Grécia .........................1,29
América do Sul...........1,21
Japão ...........................0,19

Fonte: Revista Veja - Editora Abril - 13 de outubro de 2004 - página 106

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